segunda-feira, 11 de julho de 2011

UNIVERSO PARTICULAR- A ARTE DE CRIAR CENÁRIOS PELO JOGO DE AREIA





Participei de um projeto de pesquisa para avaliação afetiva/cognitiva de crianças e adolescentes com Altas Habilidades/Superdotação no último ano do curso de Psicologia e utilizamos como ferramenta para a avaliação o método Sandplay. Ele foi desenvolvido pela psicóloga junguiana suiça Dora Kalff (2003), que a partir do “World Technique” de Margareth Lowenfeld o batizou de SandPlay. A técnica consiste na utilização de uma caixa de madeira azul padronizada com areia em seu interior e diversas miniaturas disponíveis para serem utilizadas pelos pacientes. Estas miniaturas são classificadas por diversas categorias como, por exemplo, objetos de construção, alimentos, figuras humanas, animais, árvores e figuras fantásticas.
 A caixa, assim como uma folha de papel em branco é um universo neutro que será preenchido pela psique de seu criador. A consigna é pedir que o indivíduo faça “uma cena”. Após um tempo de observação das miniaturas, dando o estranho pressentimento que elas falam por si próprias, o paciente as coloca na caixa com ajuda das mãos. A partir disso um universo rico em simbologia se abre. 
Fiz a experiência de construir algumas caixas para sentir como se dá este processo. Senti que no início estava sendo um pouco conduzida por conceitos simbólicos já conhecidos por mim, fiz uma caixa linda e cheia de persona, que a função psíquica relacional voltada ao mundo externo, na busca de adaptação social. Tentei “manipular”, mas aquilo já falava a meu respeito. Na segunda caixa senti como se minhas mãos fossem atraídas para certas imagens e me deixei levar. Não fiz um trabalho de interpretação em cima delas, mas foi uma experiência interessante.
            Já com os pacientes pude observar o quanto aquele método foi restaurador. A criança que há uma suspeita de altas habilidades recebe uma carga de expectativa dos pais muito representativa e são cobradas de uma maneira distinta de outros filhos. O que aparentemente pode parecer algo muito positivo para a criança, pode ser um grande fardo, e muitas vezes, quase um “defeito”. O processo de socialização exige “comportamentos padrões”. A criança que age ou pensa diferente é vista com maus olhos pelos outros que por conseqüência, também cria seus mecanismos de defesa. Estas crianças e adolescentes tem, em geral, uma agenda semanal cheia de compromissos. Ao mesmo tempo em que é prazeroso pode ser desanimador quando não supera as expectativas intelectuais. Os níveis de inteligência são altíssimos e acima da média, mas e o lado afetivo, como fica? Grande parte dos “superdotados” tem dificuldades nas relações sociais e na expressão de suas emoções. A caixa de areia entra como um aliado nesta questão. Ali ficam evidentes os temas de cura e ferimento do processo psíquico de forma palpável, um produto do individuo, o que geralmente é muito subjetivo e abstrato no trabalho psicoterapêutico clássico.
            Sandplay é um mergulho do imaginar, uma ferramenta capaz criar uma ponte entre inconsciente e consciente restaurando os mecanismos de cura e permitindo o enfrentamento de conflitos.
Esta técnica requer uma formação específica que em breve estará disponível no Brasil. Para quem ficou curioso e quer fazer uma leitura mais profunda seguem alguns links:

Tese de mestrado orientada por Denise G. Ramos:


  • A utilização do método Sandplay no tratamento de crianças com transtorno obsessivo-compulsivo. Reinalda Matta

Psicólogas referência em Sandplay que são fantásticas:


  • O jogo de areia. Site da Psicóloga Edna G. Levy