Crise: Eu preciso de terapia?


                Você que está lendo agora com certeza passou já por uma crise, uma fase estranha, com um comportamento meio surtado e oscilante. Você já teve dias em que quis sair correndo de si mesmo e pular para fora do corpo?Sumir para a Ilha de Cuba, queimar todos os seus relatórios ou congelar todos os parentes?  Pois é, todo mundo passa por estas fases. Graças aos deuses!


Já dizia Dante que “no inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise”. Geralmente uma crise inicia com uma leve onda e começa a virar Tsunami de uma hora pra outra, quando você se percebe já está na crista da onda ou com ela pronta para cobri-lo.Quem nunca sonhou com uma?


Quem está perto de você percebe claramente a mudança e em geral sofre junto. No auge da irritação alguém te joga essa batata quente no colo “-Vai fazer terapia!” e mentalmente você responde no automático “Pra que terapia?”. Por que vou pagar para ficar falando com um estranho sobre minha intimidade? Eu tenho meus amigos!


Para os chineses a palavra crise compõe-se de dois caracteres: um representa perigo e o outro representa oportunidade. Gosto muito desta definição, pois me ajuda a pensar que nem tudo está perdido. 



A adolescência é a primeira grande crise, tudo muda. O corpo, o interesses, os desejos, mas ainda numa estrutura, principalmente familiar, em que as pessoas te enxergam como crianças meio crescidas. Você tem a convicção de que é auto-suficiente, apesar da oscilação entre bebezinho da mamãe e adulto independente. Eu me achava “a tal” com 15 anos "que fazia e acontecia” e tenho certeza que você também se achava, ou acha. Quando os chineses definem como oportunidade e perigo podemos voltar no tempo e relembrar da sua turma de adolescência e pensar neles hoje. Alguns surpreenderam, outros continuam adolescentes, tem aqueles que você já sabia mais ou menos como as coisas iriam correr e outros que não sobreviveram. É ou não é?



Vi num blog de uma típica adolescente este relato: ”Desabei. Meu mundo caiu, meu chão sumiu, meu ar desapareçeu, meus olhos se fecharam e consegui sentir o salgado das lágrimas que estavam escorrendo no meu rosto. Senti meus olhos transbordarem e meu coração doer, doer como nunca. Pensei por um segundo que eu não ia suportar tanta dor, pensei em gritar, mas eu queria mesmo era morrer. ”  Aqui mora o perigo! Quando o sofrimento gerado pela crise é tão forte que não há como controlar nada: Procure Ajuda!


A segunda adolescência, ou a segunda grande crise vem lá pelos 29 anos. Geralmente aqui você já trabalhou, já mudou de endereço e já teve, pelo menos, um relacionamento significativo. Deveria estar com uma profissão definida, bom salário, casado e com filhos. Enfim assumindo sozinho a responsabilidade e a seriedade da vida e blá blá blá. Mas....nem tudo são flores. Ainda mora ai dentro aquele adolescente pentelho, espinhento e revoltado da primeira crise. E ele aparece para lhe dar algumas lições. Ótimo momento para terapia.


A terceira grande crise, inicia próximo aos 45 anos. Sabe aqueles homens que se separam, compram uma moto e arranjam uma gatinha de 20? Ou a solteirona que encontra o homem “ideal” num cruzeiro com as amigas? Crise dos 45. Novamente aquele adolescente surge, mas somado ao indivíduo dito “sério” que trabalha e tem responsabilidades moldado durante a vida. No misto entre estes dois papéis, em geral você radicaliza, o que cá entre nós, deixa a família de cabelo em pé. Mas é um “mal” necessário para rever e reencontrar sua trajetória e seus porquês.


A crise dos sessenta é a colheita das coisas boas e ruins. Deste periodo geralmente vem a amargura ou a alegria dos próximos anos, que fica visivel nos seus avós lá pelos 70 e poucos. Época de rever a utilidade no mundo e retornar a ser quem se é.


A terapia ao longo da vida (ou em momentos pontuais) traz maior clareza sobre os processos. A crise acontece, mas é possível ampliar a visão e passar mais facilmente por aquele momento. Evitando a repetição neurótica de coisas que te fazem sofrer. Quando você destila seu rosário de problemas para os amigos eles dão pitacos na sua vida, conselhos, se colocam no seu lugar e dão opiniões baseado em suas vivência. O que com certeza tem muita validade afinal são pessoas que te conhecem, que gostam de você e que muitas vezes, trazem críticas construtivas que te fazem crescer. 




A diferença entre o amigo de ombro e o terapeuta é a técnica. O terapeuta é um observador isento de envolvimento, um terceiro. Segundo o Código de Ética dos Psicólogos somos proibidos de dar conselhos. A terapia serve para auxiliar o indivíduo a ver por si mesmo.




 A pessoa está dentro do Mito da Caverna de Platão, quer dizer, não consegue ver nada além do que já conhece e o psicólogo tem a oportunidade de clarear, acender o fósforo na escuridão, mostrando que além de sombras, existe uma realidade possível bem mais saudável, apesar das crises.


Mas aqui você ainda deve estar se perguntando “Pra que EU preciso de terapia?”. É caro, ela fica me cutucando, me analisando, eu não conheço nada da vida desta terapeuta. E se ela for mais louca que eu?
 A maior dificuldade para iniciar a terapia é a capacidade de se entregar, de mergulhar em si. E, é claro, a velha e viscosa pouca disponibilidade para mudar comportamentos e admitir que você precisa renovar-se urgentemente! Você tem a oportunidade de transformar uma crise num momento rico de aprendizado, que por mais dolorido que seja lhe traz consciência e menores chances de sabotar a si mesmo ou passar a crise como uma vítima do mundo.



Estava olhando fotos no google para colocar neste post e percebi que praticamente todas as imagens relacionadas a crise e desespero envolve uma pessoa segurando a cabeça bem forte como numa tentativa de tentar sustentá-la,  é no mínimo curioso. Quando tudo está desmoronando a tendencia é tentar manter as coisas como estão, por isso a força ao segurar a cabeça. Vai cair de qualquer jeito, vão cair as ilusões, as várias máscaras. Por falar nisso, qual você está usado agora? Ela não pode mais sustentar-se e o mundo não se desculpa por isso.

Araiê Prado Berger
Psicóloga Clínica CRP 08/16.032

Clínica de Psicologia Archès
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