Você tem dificuldades de explicar rapidamente a estrutura da tua família? Tem que contar VARIAS historias para justificar a existência de cada um dos membros? Provavelmente você é mais um, entre milhares, que vive numa família reconstituída. Li num artigo uma frase que me chamou a atenção “Existem famílias constituídas, desconstituídas, destruídas e reconstituídas” (ARAÚJO, 2011). Hoje em dia podemos dizer com certeza que nunca ouve tanta diversidade quando se trata deste tema.
Antigamente, na época da vovó em que o divórcio ainda era tabu as famílias só saíam deste padrão básico quando falecia um dos cônjuges. Principalmente os homens, não hesitavam de se casar logo em seguida. Não por falta de amor à falecida e sim por uma questão prática. Quem iria cuidar dos seus filhos enquanto ele trabalhava? Assim surgia a família mosaico: 3 filhos da mulher+ 4 filhos do homem + filhos do novo casal o que poderia gerar uma família de 12 a 15 filhos! Pergunte aos seus avós e se surpreenderá.
Mesmo havendo referencias bíblicas ao divórcio no antigo testamento sua popularização ocorreu no Brasil a partir de 1977, com o desquite. Mas ainda havia aquela voz bíblica no fundinho dizendo “o que Deus une o homem não separa”. Mas com todo movimento de liberação da mulher, a saída “do lar”, a popularização da a pílula as coisas mudaram. Os homens e mulheres ainda penam para encontrar um equilíbrio entre estes novos papéis.
Após toda essa transformação cultural os deparamos hoje com múltiplas formas familiares. Mães ou pais solteiros. Madrastas e padrastos aos borbotões e meios-irmãos, avós que se tornaram pais dos netos, casais homo afetivos adotando crianças. Enfim esta é nossa configuração atual. Bem mais aberta a possibilidades do que a época da vovó, aquela forma de família nuclear está se expandindo, será que viveremos logo, logo em comunidades?
Ai vem a pergunta: Como estruturar uma família reconstituída? Composta de diversos núcleos de relações afetivas, as famílias reconstituídas se fazem muitas vezes de forma inesperada. Assim, os indivíduos aprendem a lidar com a situação na prática, no improviso. Ser pai sem ser, ser enteado sem escolher, ser meio-irmão sem querer.
Em geral as pessoas não sabem bem como lidar com esta situação os papéis se constituem mesmo sem ensaio criando personagens na sua sala de jantar. Cada um assume o que lhe é mais cômodo. Quem são eles? Serão os dos contos de fada? Algumas versões se mostram bem parecidas com a vida real, outras surpreendem de tão harmoniosas.
Na clínica acho indispensável conhecer a família, e não apenas o indivíduo. Conhecer os pais de adolescentes, por exemplo, são de vital importância. Para os adultos peço que levem fotos da família, de momentos pontuais. Assim posso ter um vislumbre de onde nasceu e cresceu este paciente. Crenças, nível cultural, religiosidade, níveis de exigência, historias e feridas da família. Tudo isso constitui o sujeito.
Como os psicanalistas irão lidar com estes filhos? Resolverão o complexo de Édipo com dois pais e duas mães? Como haverá a triangulação inicial pai, mãe e filho contida na “Árvore da Vida Cabalística”, mito da criação? Temos que encontrar respostas, pois é isso que se vê todos os dias na clínica.
Para a criança a separação dos pais é vista como uma grande perda. Algo que fica marcado para sempre como um abandono. A criança, enquanto os pais estão casados é o elo de ligação. Quando este laço se rompe, a criança sente-se impotente e culpada. Ela não tem poder de decisão. Irá perder e ponto. Como se já não bastasse isso, com o tempo aparecem os terceiros, quartos e quintos. Disputas, jogos de poder e personas fortalecidas.
Para os pais há um sentimento de sempre estar dividido entre o novo mundo e o antigo. Principalmente quando encontram novos cônjuges. Nem sempre estas novas relações são aceitas pelos filhos, trazendo à tona a ferida da separação e do abandono. Há solução? Esta estruturação só pode acontecer com muito carinho, respeito e paciência. Traz novas experiências e formas de ver a vida. Falar francamente sem ferir é uma das regras básicas. Entender os papéis é o grande desafio.
O psicólogo como mediador destes conflitos coloca os indivíduos “em cena” para reproduzir os dramas familiares dentro do consultório. O trabalho terapêutico proporciona um ambiente seguro, aliado à técnica do psicólogo para dissolver diversos nós. Os públicos são variados: casais, irmãos, pais, filhos, padrastos, madrastas, avós etc. Muitas vezes trazer saúde a alguém significa tratar a família.
Se partirmos do pressuposto de que a genética é 50% constituinte da nossa personalidade, nomeado como temperamento, pode-se concluir que nossa árvore genealógica e vivência familiar esta intimamente ligada a nossa forma de agir, aliado é claro, às vivências com o mundo exterior e a própria psique. O resultado, você, é a mescla destas variáveis. As perguntas e respostas sobre este tema são tão múltiplas quanto às famílias, mas fundamentais para entender quem se é e o seu papel neste lar que você vive.
Beijos e até a próxima!
Araiê Prado Berger
Psicóloga Clínica CRP 08/16.032
Clínica de Psicologia Archès
Rua David Carneiro, 431, São Francisco, Curitiba/PR